Dr. Molina, médico Venezuelano, em uma palestra na Faculdade Nilton Paiva ele demonstrou a seguinte fórmula:
∑ > P F1 F2 p P
(Se a tarefa é maior que a pessoa, gera fracasso, frustração e a pessoa que termina a tarefa é menor que a pessoa que começou.)
∑ ≤ P S1 S2 P p
(Se a tarefa é igual ou menor que a pessoa, gera sucesso, satisfação e a pessoa que termina a tarefa é maior que a pessoa que começou.)
A mediação realizada na aplicação do PEI tem esta fórmula como princípio. As tarefas são distribuídas em sete instrumentos do nível I e em cada instrumento os desafios seguem um crescente em dificuldades, complexidade e abstração. A ação mediadora ajuda, passo a passo, o sujeito a encontrar o seu caminho, respeitando a autonomia do pensar, decidir, errar e saber voltar, para analisar e refazer o caminho até atingir o objetivo que é a modificabilidade cognitiva.
Como por exemplo, reproduzimos a seguir um texto, produzido durante um atendimento, em consultório.
O elefante e as pinhas
O elefante chamado Líber morava numa floresta cheia de árvores e pinheiros. Um dia descobriu que tinha uma pinha mágica que curava as feridas dos outros animais.
Líber foi a casa de um gambá chamada Meura, e contou a ela sobre esta pinha mágica. Meura fez algumas perguntas de dúvida:
___ Mas, Líber, se essa pinha mágica cura mesmo todas as feridas, então, vai doer quando passá-la na nossa ferida?
___ Não. Porque esta pinha mágica cura sem doer nenhuma ferida.
___ Então. Lá foram Líber, e Meura para a casa de Guioberto, o urso. E quando chegaram Meura e Líber explicaram da pinha mágica que cura feridas.
Guioberto entendeu tudo. E depois Guioberto fez algumas perguntas:
___ Mais porque essa pinha é mágica?
___ Porque ela é mágica e tem o poder de curar as feridas.
E foram para a casa da borboleta Jurema, toda a turma Guioberto, Líber, e Meura. A borboleta Jurema entendeu que a pinha era mágica.
Após terminar o texto verbalizou:
Se a pinha fosse de verdade
__ curaria o meu joelho
__o ombro de meu pai que sofreu um acidente
__o pé da Marina (irmã) quando ela quebrou.
Em vista de tal diagnóstico foi iniciada a aplicação do PEI pelo Instrumento de Percepção Analítica. Esta ferramenta analítica tem como foco o trabalho das operações mentais de identificação, análise, síntese, diferenciação e comparação. A escolha deste instrumento se mostrou eficaz, pois é uma modalidade não verbal, onde o trabalho com formas, todas representadas graficamente, eleva um pouco o nível de abstração.
Para realizar atividades de percepção analítica, Bia precisa desenvolver as seguintes operações/habilidades:
→ Identificação___ Observar, sublinhar,enumerar,contar,somar,descrever, perguntar-se, nominar;
→ Comparação: Medir,sobrepor,transportar,selecionar características e critérios de relações;
→ Análise: Dividir o todo em partes, procurar sistematicamente,verificar pós e contras, extrair o essencial e relevante – exercício do pensamento dedutivo;
→ Síntese: Unir partes, selecionar, abreviar,globalizar,reduzir, extrair o essencial- exercício do pensamento indutivo;
→ Diferenciação: Discriminar, enfocar a atenção, comparar, usar vários critérios, ver o diferente e o que é comum, buscar a identidade;
→ Representação Mental: Abstrair, associar, interiorizar, imaginar,reter,memorizar dados essenciais.
Bia tem 15 anos e está no sétimo ano do ensino fundamental. O que se observa é que a cada atendimento, ela consegue dar um passo adiante e vai solidificando a aprendizagem. O ritmo de realização é lento, depende de muita mediação, mas sempre chega ao objetivo, é uma contínua evolução. Fico pensando se a dificuldade apresentada está na forma de operacionalidade da Bia ou no processo de ensino, de mediação ou no nível de exigência que, muitas vezes é barateado para estas situações. Reporto ao sistema de formação de professores e profissionais para estes atendimentos e tenho uma indagação: Qual é o sistema de crença que norteia a ação, o ânimo e a persistência de cada um?
Há uma incógnita que desafia a todos nós: quantos caminhos o cérebro dispõe para aprender? Procuro estabelecer relação entre os três ritmos nos quais o sujeito que aprende precisa transitar: o ritmo biológico, o pedagógico e o social. O ritmo biológico é o que fica evidenciado pela rapidez ou lentidão que o sujeito apresenta na realização do ato mental. O pedagógico é o ritmo do bimestre e o sistema de avaliação escolar, onde o resultado não verifica o caminho percorrido, o que já foi conseguido, mas de forma perversa e cruel verifica e evidencia o quanto falta. Já o ritmo social organizou as ações escolares dentro de um sistema de, a cada ano, o sujeito ter que aprender determinada quantidade de conteúdo.
Mediante tais situações continuo a questionar: Para aprender tem tempo determinado? A quem interessa este sistema? Como incluir sujeitos com ritmos diferentes num padrão tão rígido? Por que as famílias sofrem tanto se seu filho não consegue acompanhar os ritmos estipulados, mas aprendem em ritmo diferente? Por que há tanta discriminação das próprias crianças com os colegas que caminham em passos diferentes? Quando que a escola deixará de praticar a exclusão? Quando a inclusão não será apenas uma legislação, letra morta? Quando os profissionais da educação darão vida a ela, com realidades mais justas, humanas e dotadas da compreensão de que somos diferentes e que é na diferença que se consolida a identidade de cada um?
Visualizo o exercício do não pertencimento pelo qual passam nossas crianças e adolescentes que não se enquadram na formatação executada pelos sistemas. Pergunto: como estes sujeitos poderão construir uma visão de futuro se a exigência do presente os engole de tal forma que eles estão presos, sem chances de buscarem outras possibilidades? Angustia-me, quando penso, nas crianças e adolescentes oprimidas, sem condições de quebrarem os grilhões de um sistema que avalia e levanta dados estatísticos, como forma de divulgar o insucesso, e que não retoma, de maneira eficiente, a formação continuada dos profissionais de educação. Assusto-me, quando há determinação legal para mudanças no sistema sem que os profissionais estejam preparados para absorverem tais mudanças.
Ao trabalhar com crianças, jovens e adultos com dificuldades de aprendizagem e com formação de professores por este país afora, constato a distância que existe entre estas duas questões, o fosso da falta de formação, da falta de abertura para se discutir com propriedade a necessidade de junção destas duas extremidades. Bia é a materialização de todas estas questões, é inteligente, não no sentido de desempenho acadêmico, como geralmente ele é definido, é meiga, de uma ingenuidade que emociona e ensina sobre a pureza do ser humano, pureza esta que infelizmente é perdida ao longo da vida. Com ela, aprendo a cada dia a descobrir os caminhos incógnitos do conhecimento, estudo e constato a possibilidade infinita, não convencional em que o ser humano pode aprender.
Trabalhamos também a percepção do futuro e busco despertar as condições para a formatação de um sonho. E porque o sonho é necessário? Na vida precisamos dentre as muitas relações existentes a de causa e efeito (se… então…), que nos permite transitar entre o passado, o presente e futuro o para dar significado a nossa vida. Prever o amanhã nos dá a possibilidade de escolhas. Fazer escolhas exercita a autonomia e esta promove a autoria de nosso pensamento.
Bia, com toda certeza, transitará por este caminho e não tenho nenhuma dúvida de que o PEI ajudará nesta conquista. Ela se apresenta, hoje. com algumas realizações e um imenso espaço do ainda não…, que é tradução da possibilidade, do poder conquistar a seu modo, a seu tempo e com a sua vontade. Ela olha como se estivesse vendo o que não está visível, seu olhar se ausenta e depois retorna, ela sorri como se tivesse encontrado o que procurava,às vezes, chora diante a impossibilidade, quando acredita que não conseguirá vencer, espera por resposta e só ofereço perguntas, dando oportunidade dela caminhar pela Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) de Vygotsk, depois da um largo sorriso e encontrar suas próprias respostas, consegue transpor a barreira. Este exercício gasta tempo, consome energia da mediadora e da mediada, mas confirma a cada dia o que Feuerstein afirma ” todo mundo aprende, basta que se descubra como.”
Não quero com esta exposição romancear a dificuldade, desejo humanizar o trabalho com a diferença, e para isto é necessário mudar a crença dos educadores, dos cuidadores, de familiares e das instituições educacionais. Pelo diagnóstico recebido, Bia não falaria, não andaria, seria cega e vegetaria.
Teve sorte, encontrou uma família que não se conformou com esse quadro. Lutaram para vencer os limites que a hidrocefalia poderia impor. Conheci Bia, quando fui professora de sua mãe, a quem chamo de Teísa, pessoa corajosa, olhar brilhante e curioso, uma alegria contagiante e que foi minha aluna numa disciplina chamada Desenvolvimento Cognitivo. Nesta época,Teísa era sócia-proprietária de uma escola, onde Bia estudava e encontrava algumas dificuldades, foi quando levantei um primeiro diagnóstico da situação escolar, observando o desempenho cognitivo.
Após este acontecimento levantei um segundo diagnóstico cerca de três anos e depois e, em 2011, há cerca de três meses estou realizando uma intervenção, utilizando os instrumentos do PEI nível I. Apesar de pouco tempo Bia tem respondido satisfatoriamente. A cada página de atividades constrói uma regra para levar para a sua vida, que produz, inicialmente, mudanças de comportamento. Com a continuidade do processo chegará a modificabilidade cognitiva estrutural.
Seu desempenho acadêmico será consequência do desenvolvimento integral, ele é uma parte importante, mas não o único e nem a mais importante. O objetivo maior é oportunizar a ela um desenvolvimento que a conduza à autonomia do aprender, mas que principalmente, a leve a encontrar a satisfação, a alegria e a emoção em cada ato de sua vida, que lhe dê a coragem de caminhar por si mesma, aceitando os riscos da vida, de vencer as dificuldades e, fundamentalmente, de conservar a essência da necessidade do buscar infinito.